Numa conversa regada pelo calor intenso do verão europeu, Niels Kaastrup-Larsen e Nick Baltas trouxeram um tema à tona: não só o clima mudou nos últimos dez anos, mas também o jeito como lidamos com ele. Grécia, Espanha e Portugal atravessaram mais dias de calor extremo do que o habitual. Turistas do Norte tentam escapar, mas o calor parece inescapável. Pessoalmente, lembro de um verão em Lisboa em que o asfalto parecia derreter sob os sapatos – e as noites eram ainda piores. Não é apenas desconforto; é adaptação, ajuste, procurar jeitos melhores de enfrentar o inesperado. E, curiosamente, é sobre adaptação que falamos ao tratar de estratégias de trend following.
O cenário recente de trend following
Enquanto o clima pegou fogo, o mercado acompanhou movimentos nem sempre fáceis de decifrar. Julho trouxe alguma calmaria, mas foi em agosto que estratégias de trend following – aquelas que buscam capturar tendências e evitar os solavancos maiores – apresentaram desempenho sólido, em especial as com abordagem mais lenta. Nem todos os programas tiveram o mesmo resultado, mas o destaque veio mesmo das ações, moedas e, principalmente, do ouro, que se afirmou como o grande protagonista do ano em um universo de 80 mercados analisados.
A renda fixa decepcionou: sem tendência definida, sem brilho, sem resultado relevante. Já as commodities, como gado, ouro e prata, garantiram retornos positivos. Curiosamente, algumas agrícolas, como o trigo, acabaram sofrendo com super safra e quedas acentuadas.
Os CTAs (Commodity Trading Advisors) que tinham exposição ao fator carry – aquele ganho por carregar ativos com juros positivos – e utilizavam reversão ou stop loss, ficaram à frente. Carry protagonizou um dos seus melhores anos, com destaque para as estruturas neutras em beta.
Alguns números para ilustrar:
- BTOP50: subiu 0,92% em agosto, mas acumula -3,29% no ano.
- SocGen CTA: alta de 1,3% em agosto, queda de -6,25% no ano.
- Trend Index: quase 3% positivo em agosto, -7,39% no ano.
- Short Term Traders Index: queda de 1,25% em agosto, acumulando -6,29% em 2023.
A diferença de resultados revela um ponto simples:
Velocidade importamas não é tudo.
Estratégias estão ficando mais lentas?
Parece que sim, à primeira vista. Quando se analisam as correlações ex post entre estratégias de diferentes velocidades em períodos de dez ou quinze anos, a impressão é que os programas de trend following ficaram mais lentos. Só que essa percepção pode ser ilusória. Veja bem: a introdução de sinais diferentes (como value, carry, stop loss), mudanças no gerenciamento de risco, ajustes nos mercados incluídos, tudo isso pode alterar a correlação entre sinais mesmo sem mudar a velocidade do sinal base.
Ou seja, analisar velocidade apenas pelo comportamento do passado engana. Mudanças técnicas profundas podem ter mudado o jeito como os programas reagem ao mercado. Muitos gestores ajustaram suas carteiras e parâmetros para responder a dinâmicas variadas. Por isso, é quase impossível jogar todos os gestores nas caixinhas “rápido”, “médio” ou “lento”.
Estudos como o realizado pela Quantica sugerem uma média histórica relevante: 66 dias úteis de half-life do sinal trazem os maiores níveis de correlação entre players do setor. Mas, de novo, isso é apenas parte da história e os perfis evoluem. Artigos sobre análise técnica na Revista ESPACIOS reforçam a necessidade de abordagem flexível e bem fundamentada.
Categorias de trend followers
Existem várias tribos nesse universo. Entre as mais comuns:
- Replicadores (imitam índices ou sinais bem conhecidos)
- Diversificadores (buscam alternativas ao beta tradicional)
- Caçadores de eventos raros (exploram dificuldades extremas do mercado)
- Mitigadores de crise (foco total na defesa da carteira em momentos críticos)
- Puross (só seguem tendências, sem ajustadores adicionais)
No longo prazo, todo mundo parece parecido, as correlações ficam altas. Mas, olhando de perto, as diferenças são bem marcantes em cada janela de tempo. Por isso, mais importante do que buscar o “melhor” gestor é entender o objetivo do investimento. Retorno absoluto? Proteção? Hedge contra inflação? Isso muda tudo na forma como você enxerga o desempenho de sua estratégia. Inclusive, diluir programas para ficar mais “seguro” pode acabar reduzindo sua capacidade defensiva.

A história dos índices e benchmarks
Os principais índices de trend following, como o SocGen Trend Index, não são tão neutros assim. Eles refletem as decisões de design, os ajustes de risco e até o viés de sobrevivência dos grandes gestores. Então, não servem, necessariamente, como um “beta puro” da estratégia. Alguns defendem construir benchmarks a partir de modelos bottom-up – aqueles em que você monta o sinal de tendência de modo simples, do zero – mas até isso traz limitações. Cada abordagem tem seu próprio viés.
Assim, investidores e gestores precisam de atenção dobrada ao comparar estratégias e definir expectativas. Porque, no fundo, não existe um beta universal de trend following, e cada índice ou modelo carrega escolhas e pressupostos próprios. Antes de mais nada, vale consultar estudos comparativos, como o da Universidade Federal de Uberlândia, que mostram que variações no setup e frequência (como o uso das Três Médias Móveis e diferentes timeframes) alteram sensivelmente o resultado, reforçando a importância da escolha de parâmetros e do acompanhamento de benchmarks realistas (pesquisa da UFU).
Limitações e objetivos: por que comparar é delicado
O debate sobre benchmarks serve também para pensar sobre o papel das estratégias defensivas na carteira. Dave Dredge problematiza o método tradicional de construção de portfólios institucionais, que prioriza a estabilidade dos retornos e acaba lotando a carteira de ativos altamente correlacionados. O risco? Quando tudo desanda, tudo cai junto.
"O melhor carro só é possível com os melhores freios."
Trend following e long vol atuam como esse freio. Protegem o patrimônio e dão segurança para arriscar mais no resto da carteira. E aqui surge uma diferença fundamental: modelos tradicionais (como o de Markowitz, que maximiza Sharpe em apenas um período) ignoram o efeito devastador de perdas acentuadas no curto prazo para o retorno composto lá no futuro.
É fácil ilustrar: uma queda de 10% exige mais de 11% de retorno só para recuperar o nível anterior. Simulações de Monte Carlo mostram que, ao mitigar perdas, estratégias como trend following e long vol não aumentam muito o retorno aritmético médio, mas deslocam todo o conjunto dos retornos compostos para cima. O valor não está no ganho isolado, mas, principalmente, em proteger tudo nos momentos críticos.

Buscando referências para análise de trend following
Quem busca referências para estudar e comparar estratégias encontra bons caminhos em pesquisas acadêmicas. Por exemplo, uma comparação entre redes neurais, métodos estatísticos e estratégias baseadas em momentum demonstrou que as clássicas técnicas de momentum ainda seguem relevantes até diante de avanços em machine learning. Já uma dissertação da FGV avaliou trading algorítmico com rompimento de linhas de tendência aplicadas ao RSI, com retornos superiores ao buy-and-hold tradicional para o S&P 500. Ou seja, fundamentos simples, quando bem calibrados, seguem produzindo resultado – mas sempre com ajustes para o contexto do investidor.
Refletindo sobre o futuro dos benchmarks e proteções
Sabe aquele sentimento de que a discussão nunca tem fim? É isso. A escolha de benchmarks e de quais estratégias incluir para proteger o patrimônio – seja com trend following, long vol ou outras ideias – continuará sendo pauta. Publicações mensais como as de Dave Dredge no LinkedIn aprofundam esses temas, com exemplos práticos e teóricos.
"A melhor carteira não é a que nunca cai. É a que sobrevive ao que ninguém espera."
O mais relevante, talvez, é ajustar expectativas e propósito: alinhar a estratégia ao que se busca, considerando os ciclos, riscos e, sobretudo, tempo de recuperação das perdas. No Invista Já, é justamente essa combinação entre tecnologia, análise matemática e referência prática que nos move a ajudar investidores a atravessarem futuros incertos com menos ansiedade.
Agora é a sua vez. Aproveite para conhecer mais sobre o Invista Já, descubra robôs investidores e aprofunde-se em trend following. Teste diferentes estratégias, adapte parâmetros e veja como a matemática pode trabalhar a seu favor. Adapte-se, questione benchmarks e proteja seu patrimônio para qualquer clima.
Perguntas frequentes
O que é trend following?
Trend following é uma estratégia de investimento que busca identificar e acompanhar tendências dos preços, aproveitando movimentos prolongados de alta ou queda dos mercados. Em vez de tentar prever reversões, o investidor segue o fluxo, ajustando posições conforme os sinais de tendência. Isso pode ser feito com indicadores técnicos, médias móveis e algoritmos matemáticos, como os desenvolvidos pelo Invista Já.
Como comparar estratégias de trend following?
A comparação de estratégias envolve analisar desempenho histórico, volatilidade, máxima perda (drawdown), correlação com outros ativos e objetivos da carteira. Estudar benchmarks como o SocGen Trend Index pode ajudar, mas é preciso cuidado: índices carregam escolhas metodológicas e refletem carteiras de gestores grandes, trazendo viés de sobrevivência. Também é útil consultar estudos acadêmicos, como o artigo da Revista ESPACIOS, para entender fundamentos técnicos.
Quais são as melhores estratégias de trend following?
Não existe uma única “melhor” estratégia, pois o desempenho varia conforme objetivos, mercados, horizonte de tempo e tolerância ao risco. Algumas das mais usadas incluem médias móveis, breakout de linhas de tendência, momentum, além de variações com filtros de volatilidade ou stop loss. Pesquisas como a análise das Três Médias Móveis pela UFU indicam que detalhes como escolha de parâmetros e frequência de operação fazem diferença relevante. Testar, adaptar e revisar constantemente é o caminho.
Trend following realmente vale a pena?
Trend following não garante ganhos constantes, mas pode proteger capital em períodos de crise e potencializar retornos ao capturar movimentos fortes de mercado. Simulações mostram que a verdadeira força está na proteção contra perdas graves, melhorando a distribuição dos retornos compostos ao longo do tempo. Como um bom seguro, seu valor aparece nos momentos críticos.
Onde encontrar exemplos de trend following?
Exemplos estão presentes em pesquisas acadêmicas, artigos técnicos e até nas estratégias desenvolvidas por plataformas como o Invista Já. Além disso, trabalhos como a dissertação da FGV sobre RSI e estudos publicados na Revista E&S mostram aplicações reais e comparativos com outros métodos. Utilizar fontes confiáveis e testar em ambiente simulado é sempre recomendado.
