Gráfico colorido mostrando correlações entre mercados financeiros variados ao longo do tempo

Pouca coisa é mais comentada no universo das finanças do que a velha máxima: diversifique seus investimentos. Mas o que, de fato, significa diversificar? E, principalmente, por que tanta gente se surpreende ao ver resultados tão diferentes entre carteiras diversas, quando os estudos mostram que as correlações entre mercados variam tanto ao longo do tempo?Nesse artigo, você vai entender, com exemplos numéricos, o que a ciência financeira mostra sobre a natureza mutável das correlações e como isso desafia certezas que parecem simples.

Como a diversificação costuma ser medida e por que isso é um problema

Quando se fala em diversificação, quase sempre a principal métrica usada é a correlação dos retornos mensais entre ativos ou mercados. Basta pegar séries de retornos, calcular o quanto andam juntos ou separados, e pronto: temos um indicador para ajudar a montar um portfólio. Só que há uma pegadinha nesse método.

O primeiro incômodo surge quando você resolve olhar retornos acumulados por períodos de vários anos, como 5 ou 10. De repente, certas correlações, que pareciam altas nas janelas mensais, começam a encolher. Algumas despencam.

As correlações raramente são estáveis.

Esse comportamento leva à pergunta central deste artigo: por que correlações mudam tanto conforme ampliamos o horizonte temporal? E, mais importante ainda, qual impacto isso tem sobre a estratégia de diversificação?

A diferença entre correlações de curto e longo prazo

Estudos clássicos, como os de Cliff Asness, Andrea Frazzini, Tobias Moskowitz, e, não menos relevante, Israelov e Liew, trouxeram evidências sólidas de que os fatores que movem os mercados no curto prazo não são os mesmos do longo.

Ao medir a correlação entre grandes mercados usando retornos mensais, aparecem pares com valores entre 0,5 e 0,8. No entanto, ao olhar prazos de 5 ou 10 anos, quase todas essas conexões ficam bem mais fracas. A exceção são os mercados da Ásia-Pacífico (excluindo Japão) e mercados emergentes, que continuam bastante conectados.

O longo prazo esconde múltiplos desvios.

Nesse contexto de transformação, o projeto Invista Já, referência em algotrading e análise quantitativa, se destaca por trazer à tona como analisar essas mutações de correlação é essencial para quem busca consistência real e decisões baseadas em dados robustos. Não por acaso, há uma preocupação crescente em medir o que, de fato, significa robustez e estabilidade nas métricas escolhidas para montar carteiras globais.

Por que Ásia emergente e emergentes andam juntos?

A explicação mais plausível é a exposição intensa de ambos à indústria de commodities. Tanto é verdade que suas carteiras continuam com correlações próximas a 0,5 com o setor de petróleo dos EUA, independentemente do prazo analisado. Por outro lado, mercados como Japão e América do Norte, em horizontes longos, veem essa ligação se tornar negativa.

Mapa das correlações entre mercados globais ao longo do tempo

Logo, investir simultaneamente nesses dois mercados não traz uma diversificação tão eficiente quanto parece ao olhar uma janela curta. Um ponto, aliás, que leva muita gente a buscar alternativas menos correlacionadas dentro de um verdadeiro portfólio global.

O peso dos múltiplos globais no curto prazo

De acordo com estudos como os de pesquisa disponível no ResearchGate, fatores ligados a valuation, ou seja, quanto um mercado está caro ou barato usando múltiplos como P/L, dominam o comportamento dos retornos em janelas pequenas. Todos sobem ou caem conforme as expectativas globais mudam.

No curto prazo, o humor global dita o rumo.

Assim, quando crises ou euforias tomam conta, o mundo inteiro tende a se mexer junto, é aquele famoso efeito dominó. Só que isso é menos verdadeiro a medida que o horizonte do investidor se alonga.

O domínio dos fundamentos locais no longo prazo

Nos períodos acima de 5 anos, as economias começam a mostrar suas particularidades. Taxas de crescimento diferentes, inflação, políticas públicas, regimes cambiais e setoriais ganham tração. Assim, as correlações, que antes eram altas, despencam. Isso foi documentado em detalhes por análises da Universidade Federal de Santa Catarina e também pelo estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mostrando o papel dos fundamentos geográficos e setoriais na construção de carteiras robustamente diversificadas.

Cada mercado segue sua trilha, como se dissesse: “eu funciono à minha maneira”. Com isso, portfólios globais ficam menos sincronizados, tornando o benefício da diversificação bem mais visível em prazos longos.

Sharpe ratio aumenta no longo prazo, e o risco despenca

Uma consequência direta dessa menor correlação é o aumento consistente do índice de Sharpe quanto maior o prazo analisado.

  • No horizonte mensal, um portfólio global diversificado apresenta Sharpe ratio abaixo de 0,4.
  • Já nos retornos acumulados em 10 anos, esse Sharpe ratio sobe para acima de 0,6 em muitas simulações.

Tal crescimento não acontece porque o retorno esperado aumenta exageradamente, ele até se mantém relativamente estável, mas principalmente porque a volatilidade cai conforme ativos passam a andar “menos grudados”.

Gráfico mostrando índice de Sharpe e volatilidade caindo com o tempo

Commodities e descorrelação estrutural

Entre os setores analisados, recursos naturais como petróleo, gás, mineração e ouro se destacam. No curto prazo, apresentam correlação alta com o mercado geral dos EUA, efeito que, surpreendentemente, desaparece (ou até vira negativo) em horizontes de 10 anos.

Esses setores, por natureza, reagem de forma diferente ao ciclo econômico global. Por vezes são influenciados por choques de oferta e demanda próprios, guerras, geopolitica ou até clima, criando desvios persistentes em relação ao restante do mercado, especialmente no médio e longo prazo.

Enquanto isso, setores como navios, tabaco, agricultura e saúde seguem quase à parte, com correlações baixas (abaixo de 0,25) mesmo em prazos longos. Aqui, vemos uma das razões pelas quais carteiras “setorialmente inteligentes” reduzem bem a volatilidade, mesmo mantendo bons retornos médios.

Commodities físicas vs. ações de recursos naturais: não confunda

Muita gente pensa que investir direto em commodities negociadas em bolsa (futuros) é igual a comprar ações de mineração ou petróleo. Mas são coisas bem diferentes. As ações de recursos naturais oferecem prêmios de risco alinhados ao mercado de ações; já as commodities físicas não têm esse prêmio, pois refletem quase só variações de preço e fatores técnicos.

Quando há inflação alta, recursos naturais no portfólio brilham.

Quem busca proteção contra inflação alta costuma mirar em ações desses setores, pois tendem a se valorizar quando o dinheiro perde força. De toda forma, a correlação com o restante do portfólio é muito menor em prazo longo, favorecendo a diminuição do risco geral.

REITs, imóveis diretos e descorrelação ao longo dos anos

No curto prazo, fundos de investimento imobiliário dos EUA (REITs) se mexem quase no mesmo ritmo das ações. Mas, conforme o horizonte se alonga, a história muda: a correlação com o mercado de ações cai bastante, enquanto a ligação com imóveis diretos cresce.

No longo prazo, REITs se comportam como imóveis, não como ações.

Portfólios compostos de metade REITs e metade mercado reduzem a sensibilidade do ciclo de bolsa com o passar dos anos. Ao mesmo tempo, o índice de Sharpe ganha força, um estímulo a diversificar para quem já pensa além dos retornos instantâneos.

Esquema de correlação entre REITs, imóveis e ações, mudando ao longo do tempo

Por que a diversificação é diferente para cada prazo?

No fundo, há um motivo simples para tanto desencontro: múltiplos globais dominam o curto prazo; fundamentos locais reinam no longo.

Essas descobertas ecoam em diversos estudos, apontando que quem monta portfólio olhando só correlações e volatilidades mensais pode até parecer equilibrado, mas corre o risco de criar carteiras excessivamente sensíveis a pequenas mudanças nos parâmetros. Já portfólios analisados em horizontes de 3, 5 ou 10 anos são menos frágeis e respondem melhor a mudanças inesperadas.

Ou seja, a robustez de uma carteira de longo prazo não vem só de parecer bem balanceada na fotografia do mês, mas principalmente de conseguir manter o retorno médio e reduzir o risco quando analisada ao longo dos ciclos de mercado.

Dados práticos e exemplos reais

Estudos da Universidade Federal de Santa Catarina mostram que carteiras muito diversificadas, compostas usando modelos de volatilidade assimétrica, superaram tanto o Ibovespa como carteiras baseadas só em dividendos elevados, unindo maior retorno médio com menor risco em prazos de 10 anos, resultado reforçado quando o rebalanceamento é feito com menor frequência. Outros trabalhos, como o já citado no ResearchGate, evidenciam que apenas “ter muitos ativos” não garante sucesso: o truque está em misturar geografias, setores e classes de ativos, além de rebalancear a carteira, evitando a concentração involuntária.

Diversificação por setores e geografias em um portfólio de investimento

Limitações, riscos, discórdias, o lado imperfeito da diversificação

Como toda análise baseada em dados históricos, é bom reconhecer suas limitações.

  • O período de tempo é relativamente curto: os dados internacionais abrangem cerca de 34 anos; os setoriais dos EUA, um pouco mais de 50 anos. Isso pode mascarar períodos excepcionais, como crises ou bolhas que afetam de forma atípica o comportamento das correlações.
  • Há viés de amostra: um ciclo muito bom (ou muito ruim) em mercados americanos ou emergentes pode distorcer médias e volatilidades, levando a conclusões menos universais.
  • Custo de rebalanceamento: carteiras rebalanceadas com frequência multiplicam custos operacionais e fiscais. Já aquelas ponderadas por valor de mercado (ou com rebalanceamento mais espaçado) têm menos custos embutidos, mas acabam concentrando posição em quem mais subiu, um risco disfarçado.
  • Representatividade dos ativos: muitas empresas listadas nos EUA são multinacionais, tornando difícil distinguir o que é impacto doméstico do que é efeito externo. Assim, a “diversificação internacional” pode ser, na prática, menor do que parece.

Esses pontos alimentam debates sobre a real eficácia da diversificação internacional, especialmente no atual ambiente de globalização financeira. Mesmo assim, estudos como o da universidade federal do Rio Grande do Sul insistem: mesmo com maior integração global, os fundamentos locais tendem a jogar papel decisivo, em especial para empresas de menor porte, menos internacionalizadas. Por isso, longos períodos de descorrelação são regra no longo prazo.

O efeito da frequência de rebalanceamento

Outro detalhe pouco comentado mas muito prático: quem rebalanceia portfólio apenas a cada ano, ou até menos, deveria se preocupar com as correlações e volatilidades de longo prazo, não de curto.

Ao usar métricas de 3, 5 ou 10 anos, as decisões ficam menos vulneráveis a ruídos de curto prazo. A carteira se torna mais estável, menos à mercê de oscilações típicas de dias ou meses. Isso vale especialmente para quem investe pensando em construir patrimônio para daqui a décadas.

Na prática: robôs, algotrading e a busca por avaliações menos frágeis

Em projetos como o Invista Já, a análise quantitativa é levada ao extremo, justamente para adequar cada lógica de robô-investidor ao horizonte que interessa ao cliente. Correlações de diferentes janelas, backtests, simulações de drawdown e impactos do slippage, tudo é ajustado para evitar recomendações superficiais.

A escolha consciente do prazo considerado na montagem da carteira faz diferença, reduz drawdowns e tira o portfólio do “piloto automático” de olhar apenas o último mês. Assim, surgem carteiras adaptadas à maneira real de investir, sem precisar de ajustes a toda hora.

Não existe diversificação mágica, mas existe a diversificação inteligente.

Ao entender por que as correlações se transformam, você cria portfólios com menos pontos cegos e mais potencial de preservar capital ao longo do tempo. Diversificar não é apenas “misturar ativos”. É pensar nas conexões, seus ciclos e limites.

Conclusão: na diversidade de prazos, está a força do portfólio

Resumindo: diversificação de longo prazo é muito diferente da de curto prazo. Enquanto no curto prazo predominam múltiplos globais, todo mundo anda junto ao sabor das manchetes —, no longo prazo são os fundamentos próprios de setores e regiões que ganham peso. Por isso, correlações caem, se descolam, mudam. O benefício do portfólio globalmente diversificado aparece forte quanto maior o horizonte observado.

Montar carteiras apenas com métricas mensais é arriscado, pois pequenas mudanças nos parâmetros bagunçam tudo. Já olhar para períodos extensos traz mais estabilidade, menos sensibilidade, menos dedos no botão de rebalancear.

É difícil encontrar fórmulas perfeitas. Sempre haverá períodos atípicos, limites metodológicos, debates sobre a real representatividade dos ativos, custos e questões práticas. Mas ocultar o papel do prazo, ou não ajustar a frequência do rebalanceamento ao horizonte de medição, é um erro de perspectiva.

No Invista Já, esta busca por robustez e consistência, e não por modas do momento, faz parte do DNA. Se você também quer portfólios melhor fundamentados, adequados ao seu horizonte real de investimento, conheça nossas soluções de algotrading e análises avançadas. Suas decisões podem ser menos frágeis do que imagina.

Perguntas frequentes

O que é diversificação de longo prazo?

Diversificação de longo prazo é a construção de carteiras de investimento pensando em manter o equilíbrio entre risco e retorno ao longo de vários anos, não apenas em horizontes curtos como dias ou meses. Considera-se não só diferentes ativos, mas também setores, regiões e classes, aproveitando que as correlações entre eles mudam muito conforme o prazo de análise. Com o tempo, os mercados tendem a andar menos juntos, o que aumenta os ganhos potenciais da diversificação em horizontes mais longos.

Por que as correlações mudam com o tempo?

As correlações mudam porque os fatores que influenciam os mercados são diferentes no curto e no longo prazo. No curto prazo, efeitos globais e o humor do mercado mandam. Mas no longo prazo, ganham força as particularidades locais, economias, políticas públicas, choques setoriais e características dos próprios ativos. Por isso, ativos que pareciam andar juntos em meses ou anos curtos, acabam seguindo caminhos independentes com o passar do tempo.

Como medir a correlação entre ativos?

Para medir a correlação entre ativos, normalmente se calcula o coeficiente de correlação de Pearson entre as séries de retornos dos ativos analisados. Isso pode ser feito com retornos diários, mensais, anuais ou acumulados em janelas de vários anos. O valor varia de -1 (movem-se em direções opostas) a +1 (sempre se movem juntos). O segredo está em escolher o horizonte correto segundo sua estratégia, pois uma correlação alta no curto prazo pode virar baixa ou até negativa no mais longo.

Diversificação ainda vale a pena hoje?

Sim, diversificação continua sendo uma das estratégias mais eficazes para reduzir o risco sem sacrificar o retorno. Especialmente para horizontes longos, a chance de evitar grandes perdas aumenta bastante. Estudos como os realizados na UFSC e publicações no ResearchGate demonstram que carteiras diversificadas mantêm desempenho melhor e mais estável. O segredo está em escolher ativos, setores e geografias que efetivamente sejam pouco correlacionados no horizonte desejado.

Como escolher ativos para diversificar?

O ideal é combinar ativos de diferentes classes (ações, renda fixa, imóveis, commodities), setores (tecnologia, saúde, recursos naturais etc.) e geografias (América, Europa, Ásia, emergentes). É recomendável analisar as correlações considerando o prazo que você pretende investir e, sempre que possível, preferir setores ou mercados que tenham baixa relação no longo prazo. Rebalancear o portfólio periodicamente e considerar custos operacionais também fazem parte da escolha inteligente – e soluções tecnológicas como as do Invista Já podem tornar esse processo muito mais eficiente e embasado.

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Flavio Araújo

Sobre o Autor

Flavio Araújo

Com mais de 10 anos de experiência no Mercado Financeiro e 6 anos de especialização em algotrading, uno minha formação em Engenharia e MBA em Mercado de Capitais para cumprir um objetivo claro: democratizar o acesso à matemática e tecnologia de ponta para traders brasileiros. Interessado em levar suas operações para o próximo nível? Entre em contato pelo WhatsApp para conversarmos.

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